Em 2024, o golpe militar que depôs João Goulart completa 60 anos. Quando se trata da repressão ocorrida durante a ditadura militar, é comum associar os estudantes, professores e militantes partidários como alvos do regime. Mas não podemos ignorar que a grande força combativa nas mãos dos metalúrgicos foi, aqui na minha querida cidade de Santo André, o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e região, criado em 1933, que aglutinava as lutas de todas as demais, sendo um polo irradiador de resistência onde milhares de trabalhadores buscavam apoio logístico e ideológico para alicerçar as campanhas operárias e gerar ideias para a melhoria da vida dos trabalhadores no mundo do trabalho e social.
Foi ao lado do camarada comunista Marcos Andreotti, em 29 de junho de 1960, que meu pai (avô) Onofre José Ferreira, funcionário da Pirelli, tomou posse na condição de 2º Secretário da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André. Ele exerceu atividade de militante sindical ao lado dos companheiros Miguel Guillen, Philadelpho Braz, Amélio Paulo Toshio, Ernesto Coarraini e Adolfo Pires; no Conselho Fiscal estavam José Cruz, Guerino Finamore e Firmo Ricardo da Silva.
Mas sua história na luta em defesa dos trabalhadores e no sindicato começou anos antes, em 30 de maio de 1958, quando foi eleito 2º secretário do respectivo sindicato. Neste período, já era monitorado pelo Departamento de Ordem Social, que vigiava as atividades dos trabalhadores naquele período. Em 1962, participou das eleições concorrendo pela Chapa 01 – União e Ação, sendo eleito em 18/05/1962 e tomando posse em 29/06/1962 como 1º Secretário.
O sindicato sofreu intervenção por meio da portaria nº 41/64, datada de 06 de abril de 1964, tendo seu mandato cassado juntamente com os demais membros da Diretoria da Entidade, o que perdurou até meados de agosto de 1965.
Meu pai e sua história merecem ser lembrados, pois ele lutou em defesa dos trabalhadores de sua época e foi vítima de perseguição por parte dos órgãos do Estado, tendo seus direitos fundamentais humanos violados e suprimidos, como a liberdade de ir e vir, a liberdade de expressão e a livre organização.
Curiosamente, fiquei sabendo de sua luta alguns anos depois, pois a falta de acesso aos arquivos desse período, de documentos oficiais ainda estão em grande parte fechados, o que dificulta muito os brasileiros conhecerem essa faceta histórica. De todo modo, o sindicato, sob o entusiasmo de Philadelpho, cuidou do seu acervo, o que me permitiu levantar informações sobre sua participação na história na luta em defesa dos trabalhadores. Philadelpho costumava dizer: “O homem sem memória é um homem sem vida e não tem proposta de luta”. Vamos fazer renascer esta história que está guardada no seu baú.
Hoje, aguardamos a decisão da Comissão de Anistia para reconhecer o direito à Anistia Política de Onofre. Foi através deste tema que encontrei um ofício não protocolado nos documentos pessoais, o que permitiu abrir essa página na minha vida para conhecer, para além de um pai, avô, trabalhador e cuidador dos seus entes queridos, alguém que contribuiu na luta da resistência contra a ditadura.